Neste texto
quero abordar o assunto da separação dos pais e o impacto desta separação nos
filhos. Nos meus 12 anos de atividade clínica, presenciei diversas situações
familiares. Famílias que funcionavam sem pai, outras sem mãe, outras somente
com avós, outras com apenas tios e tias e outras que funcionavam bem e mal com
pai e a mãe juntos na mesma casa.
Essa variedade
de relações dentro de um lar promove diferentes efeitos em todos os membros de
uma família. Quando os pais são unidos e coerentes tudo fica mais fácil, mas
hoje em dia a tarefa de comandar uma família está cada vez mais difícil.
A decisão pelo
divórcio às vezes é a melhor saída para determinadas situações. Permanecer
juntos num ambiente de brigas e insultos pode ter um impacto muito mais
negativo nos filhos. Os seres humanos possuem uma forte tendência para a
autodefesa. Diante de conflitos é muito natural que cada pessoa queira “defender
o seu peixe”. Enxergar os próprios defeitos e admiti-los para outra pessoa é um
comportamento nobre, digno de pessoas muito conscientes e esclarecidas. Sendo
assim, o que encontramos no cotidiano são brigas feitas de acusações do tipo: quem
erra mais?
Essa tendência humana em se esquivar e de negar falhas, faz crescer o olhar crítico para
os erros dos outros. Eu poderia afirmar que muitos conflitos entre casais iniciam com
pequenas teimosias; uma inflexibilidade em fazer mudanças que beneficiem o
outro. O projeto familiar começa a se dissolver quando o casal
demonstra que possui diversos pontos de imaturidade.
A perfeição é
algo impossível de ser atingida. Seria impossível um ser humano executar todas
suas atividades com exatidão em cada contexto. Temos oscilações de humor,
confundimos nossos sentimentos e desejos, criamos expectativas falsas em
relação às pessoas e situações. Além dessa oscilação individual ainda existe a
combinação de interesses dentro de uma família. O conceito de correto e
perfeito para cada família é muito diferente e esta combinação de diversas
pessoas, com suas próprias oscilações, torna a tarefa da convivência uma arte
complexa e às vezes caótica.
De alguma
maneira a vida segue e as peças vão se encaixando, como num caminhão de
abóboras em movimento, mas quais são as situações onde os conflitos prejudicam
diretamente a personalidade dos filhos?
Qual é afinal o papel dos pais na
formação da personalidade dos filhos?
Quando um casal decide se separar,
quais os cuidados que devem ter para evitar danos na relação e na autoestima de
seus filhos?
Essas questões
são fundamentais para que a decisão dos pais não afete negativamente o
desenvolvimento das crianças e adolescentes. Mesmo que um casal decida
permanecer unido, precisa avaliar a forma da convivência, pois brigas,
xingamentos e desrespeito são os maiores vilões dessa história. Separados ou
unidos, os pais necessitam de maturidade para entender que a responsabilidade de
pais é maior do que o interesse individual de cada parte como marido ou esposa.
A criança no meio do tiroteio
Muitos pais
inflamados com sentimentos de raiva e decepção ficam tão cegos que não percebem
que demonstram essa raiva para os filhos. Os filhos precisam dos pais e não
precisam decidir, como numa audiência, de que lado eles querem estar. Falar mal
um do outro para os filhos é uma atividade extremamente danosa. As crianças e
adolescentes precisam se sentir seguras, confiar que os adultos saberão
resolver os problemas enquanto são incapazes de tomar decisões.
Quando o pai
ou a mãe tentam explicar ao filho o lado ruim do outro isso só torna a criança
mais insegura, pois ela percebe claramente a imaturidade dos pais e teme ser
prejudicada pelos defeitos que ambos os lados se acusam. Saber lidar com raiva
e decepção é uma habilidade psicológica importante para os pais. Pessoas
bélicas, impulsivas, reativas tendem a perder a calma e acabam expondo seus conflitos
na frente dos filhos. A criança não deve ser um juiz que decide a audiência,
ela precisa ser protegida de emoções negativas muito intensas e que fogem ao
controle dela resolver.
Dia de visita
Normalmente a
guarda dos filhos fica com a mãe, então o pai tem os dias certos ou o final de
semana para ficar com seus filhos. É muito importante respeitar essa divisão,
pois o pai acaba tendo menos contato com o filho e pode acontecer um
distanciamento pela falta de convivência. Além de manter o contato na visita é
fundamental que o pai (ou em alguns casos a mãe) ligue para o filho com
frequência, para mostrar interesse pelo dia a dia da criança. Alguns pais
dedicam-se apenas ao dia da visita ou ao final de semana “dele” e a convivência
também fica fria e distante. A criança não deve se sentir visita na casa do pai. Precisa ter
intimidade e espontaneidade para dizer o que está sentindo. Se não fala muito
ou resmunga é porque algo deve estar errado.
Na adolescência
é ainda mais difícil, pois os eventos com os colegas geralmente ocorrem no
final de semana. Se o acordo estabelecido é no final de semana, pode ser a hora
de flexibilizar essa regra. Transformar a permanência em casa num almoço, ou
uma pizza a noite pode ser mais eficaz do que obrigar o adolescente a ficar com
o pai e perder o encontro com os amigos. Almoços ou jantares durante a semana
também podem ser eficazes para colocar a conversa em dia.
Certamente a adolescência necessita
de limites, obediência, mas isso precisa ser feito com bom senso. Se
o adolescente está seguindo essa fase de forma branda e educada ele deve ser
ouvido para que a boa relação entre pai e filho permaneça saudável.
Casas com regras
diferentes
Após a
separação cada um seguirá sua vida com suas próprias regras no lar. Uma
diferença muito brutal de hábitos de uma casa para outra pode ser negativa se
for imposta de forma autoritária. Normalmente o costume dos filhos é muito mais
coerente com o ambiente onde ele fica mais tempo (na casa da mãe na maioria
dos casos). Esse é um item que normalmente gera muito atrito entre o casal, pois
novamente começam a apontar os erros na rotina de cada casa. Se os pais tem um
bom relacionamento fica mais fácil debater sobre a melhor maneira de realizar
determinados rituais em casa como horário de dormir, hora de estudar e fazer
tarefa, hora de comer, organização de roupas, participação na limpeza da casa e
etc.
Quando existem
mágoas e ressentimentos esse já é um pretexto para desqualificar o antigo
companheiro. Os pais começam as trocas de acusações. É muito importante que os pais percebam e tenham maturidade
para admitir que enquanto “alfinetam” o antigo parceiro é porque ainda não
resolveram suas questões emocionais ou porque ainda querem competir para ver
quem se sai melhor na educação. Essa também é uma atitude
imatura, pois nenhum consenso pode ser estabelecido na base da competição:
- Sua mãe
deixa você dormir tarde para facilitar a vida dela de manhã cedo!
- Seu pai não te
ensina a arrumar as coisas em casa, vai virar um vagabundo!
- Seu pai fica
dando presentes caros para você gostar mais dele, não está nem aí que você “vai
mal” na escola!
- Sua mãe está
sempre atrasada, é uma desorganizada, por isso você está desse jeito!
- Aqui em casa
você estuda muito mais porque tem regras, na casa da sua mãe é uma bagunça!
Poderíamos
fazer um livro só com esse tipo de frase. Muitos pais devem reconhecer que
fazem esse tipo de comparação o tempo todo. Isso acontece até mesmo quando
ainda moram juntos, mas já estão em conflito.
Novamente não
podemos exagerar. Alguns conflitos são normais e fazem parte do cotidiano. O
grave neste caso é a insistência em apontar o defeito do outro. Não existe uma
crítica saudável se não for feita de forma gentil e educada. Existe sim
COMPETIÇÃO e os filhos já não sabem mais qual o ambiente mais saudável para
ele. Se os pais não conseguem dialogar e chegar num acordo, é necessário que haja
respeito pelo ambiente criado pelo seu antigo parceiro e caso identifiquem algum
hábito muito ruim devem dialogar longe dos filhos.
As crianças se adaptam as diferenças,
sabem reconhecer a personalidade de cada um e tendem a respeitar quando possuem
bom relacionamento com ambas as partes. Não há necessidade de escolher o MELHOR
ambiente. O mais importante é que ela admire os pais, cada um a
sua maneira. Se a rotina do pai é muito diferente da mãe, e o filho manifestar
desconforto, é necessário que o pai reveja algumas posições e tente deixar o
ambiente mais próximo do filho. A criança ou adolescente podem sentir as diferenças,
mas precisam se sentir à vontade em ambas as casas.
Padrasto ou madrasta
Este é outro
ponto delicado, pois é a entrada de mais uma pessoa com novas regras e
oscilações de humor no ambiente da criança. Esta nova pessoa não apenas entra
com sua personalidade, hábitos e regras, como passa a opinar na educação e na
rotina da casa. Cabe aqui muita sabedoria e maturidade dos pais para entender
os sentimentos dos filhos.
Muitas vezes os pais querem que o
filho aceite de uma hora para outra a presença de uma terceira pessoa, quando
ainda mal se adaptou a separação. Quando a separação é recente
as crianças também se sentem ressentidas e sentem que também foram lesadas. Os
filhos podem sentir ciúmes por tomar as dores do pai ou da mãe, podem se sentir
ameaçados com a presença de uma nova pessoa que além de roubar a atenção,
também vai colocar regras que não pertencem à personalidade do pai ou da mãe.
A
personalidade desse novo membro na família é um fator decisivo nessa composição,
pois pessoas mais maduras tendem a perceber a situação e serem mais sutis na
adaptação tentando interferir menos e deixam que a prioridade continue sendo o
filho. Uma pessoa madura não estabelece uma competição com a criança ou
adolescente. Tende a respeitar o espaço que é destinado ao filho.
Percebi com
minha prática clínica muitos problemas nessa adaptação do padrasto ou madrasta,
pois além da relação com o filho do parceiro, ainda o novo integrante precisa
lidar com suas questões emocionais, como ciúme do ex-marido ou esposa,
diferenças de hábitos e personalidades, implicâncias de muitos adolescentes que
não aceitam o novo membro na família e etc.
É uma tarefa
difícil para ambos os lados, mas ainda assim cabe ao adulto coordenar a
orquestra. Mesmo no caso de adolescentes provocativos e enciumados, cabe ao
adulto administrar a situação. Não adianta exigir que a criança não sinta o que
está sentindo. A empatia precisa ser exercitada. Significa olhar pelo olhar do
filho que se sente lesado e ameaçado com essa nova composição.
Acompanhei
situações onde a madrasta não conseguia sentir amor pelo filho do casamento
anterior e acabava competindo pela atenção do pai. Esse é um dos piores quadros
possíveis, pois obriga o pai a escolher de que lado quer estar. O mais grave
nisso tudo é que muitos pais acabam cedendo ao adulto imaturo e se deixam
manipular pela mulher. Esta situação culmina no distanciamento do filho do pai
e pior ainda, a sensação de rejeição por parte do pai. A criança sente que o
pai escolheu outra família, que ele não é mais prioridade nas decisões dele. A
autoestima dessa criança torna-se muito ruim e pode atrapalhar inclusive
vínculos no futuro.
Realmente ao
se colocar no lugar da criança é estranho pensar que o pai que deveria
protegê-la e ajudar nas horas difíceis ou estar presente nas horas felizes está
sempre priorizando seu novo relacionamento. Alguns percebem a manipulação da
nova parceira, mas temem se posicionar a favor dos filhos e romper o
relacionamento. Outros percebem e não sabem como lidar estando sempre em cima
do muro, tentando conciliar os lados sem sucesso, outros percebem e acabam
dando o poder de decisão para a nova mulher. Todas essas situações são ruins,
pois os filhos não podem sentir que não são prioridade nas decisões do pai.
Claro que o inverso também é verdadeiro para padrastos e neste caso às vezes a
imposição de regras é ainda mais forte, pois na nossa cultura os homens ainda
detém maior poder de decisão nas famílias. No caso de padrastos pode haver um
clima ainda maior de rivalidade, pois são dois homens impondo regras e querendo
“ganhar” a competição.
Mesmo quando
os pais se enxergam saudáveis, uma pessoa de fora do ciclo familiar consegue
perceber facilmente o clima de competição e ressentimento entre os adultos. As
crianças sentem isso na pele e crescem pisando em ovos, nunca sabendo como a
situação de fato prosseguirá. Os pais precisam ser autocríticos e realmente perceberem que os
comportamentos tímidos ou agressivos dos filhos são sinais importantes de que
as coisas não vão bem.
O pai ou a mãe
devem estimular o novo cônjuge a lidar de forma madura com seus sentimentos.
Deve também ressaltar que os filhos não serão preteridos de forma alguma e devem
incentivar que a pessoa tenha paciência e tente entender o laço de amor e
responsabilidade que unem pais e filhos. Se os pais não se posicionam e não
educam esse novo parceiro(a), muitos problemas vão ocorrer e estão descritos no
próximos tópicos: ciúmes do antigo
parceiro e brigas financeiras.
Ciúmes
Muitas separações
ocorrem após a traição de um dos cônjuges e esta situação sempre será polêmica
na vida da família. O ressentimento do traído certamente será refletido na
condução da separação. Os filhos tendem a punir severamente o traidor e demoram
a perdoar o responsável pela traição.
Suponhamos que
neste caso a mãe é traída pelo pai e desenvolve um forte desejo de vingança da
nova mulher que é vista como “ladra e sem caráter”. Sabemos que cada caso é um
caso e os seres humanos nem sempre organizam seus sentimentos para ações
corretas, mas a pessoa traída não deseja ter empatia pela pessoa que invadiu
seu casamento. Neste momento ela ignora suas contribuições negativas para o fim
do casamento e passa a desejar que o novo casal seja infeliz. Este quadro é
muito negativo para os filhos, pois criam um julgamento da situação através do
olhar da mãe traída e não conseguem mais avaliar a conduta do pai isoladamente.
Eles enxergam um homem que traiu e não mais o PAI.
É comum que
todo o grupo familiar passe a fazer muitas exigências como forma de punir o
“traidor”. Neste caso são criadas duas facções e as famílias são desmanteladas.
Se a pessoa traída não aceitar ou perdoar pode passar uma vida toda criando
situações negativas para seu ex até mesmo sem perceber, e esse comportamento de
cegueira e raiva, sendo consciente ou não, levará ao mal relacionamento dos
filhos com o novo núcleo formado pelo padrasto ou madrasta.
A pessoa que
foi responsável pela traição inicia com culpa e depois acaba sentindo raiva de
tantas vinganças. Pode acabar assumindo o isolamento radical como forma de se
proteger de acusações. Esse isolamento e falta de diálogo será péssimo para a
condução da educação dos filhos. Mesmo que magoados ou traídos, os pais
precisam conversar e dar prioridade ao bem estar dos filhos. Os adultos emocionalmente abalados
acabam esquecendo que acima de tudo são modelos para seus filhos e quando não
superam sentimentos negativos demonstram pouca maturidade.
A pessoa que
está sendo agredida, por outro lado, precisa também entender a raiva e mágoa
que provocou e ter paciência com surtos de raiva e ciúme. Acolher a dor desta
pessoa é fundamental para que a raiva passe e o “traidor” prove que continuará
sendo um bom pai, mesmo que não tenha agido da forma correta com a mulher. O
mínimo que se espera de alguém que faz um corte no braço de alguém é que ela
ajude a tratá-lo e aguarde sua cicatrização.
O ciúme pode
aparecer do outro lado dessa história. Quando a mulher quis a separação e entra
uma nova pessoa na vida deste que foi convidado a se retirar da casa. A nova
namorada pode ficar desconfiada dos sentimentos do seu novo parceiro e passar a
restringir o contato deste com sua antiga família. Quando ela não restringe de
forma enfática, pode sutilmente tomar as rédeas das decisões para evitar que o
namorado estabeleça contato com a ex-mulher. Como neste caso, o homem, sente-se
fragilizado pela rejeição da ex-mulher, estabelece uma ligação de dependência
afetiva com essa nova companheira, que passa por ciúme, a protegê-lo desta convivência. Esta nova companheira pode acabar lesando a relação deste novo namorado
com os filhos do primeiro casamento, mesmo que não tenha esta intenção, pois
ela passa a ditar os limites e os filhos não sentem mais o domínio do pai na
situação. A nova integrante acaba delimitando restrições também
aos filhos, pois se sente ameaçada pelo sentimento que o seu parceiro possa
reativar a qualquer momento.
Os filhos
passam gradativamente por se afastarem, pois já não sentem que o pai tenha
poder de decisão ou palavra nesta relação. É possível não reconhecerem mais a
casa do pai como suas. Sentem que estão na casa da nova namorada.
Creio que nem
sempre esse ciúme é reconhecido pelas pessoas. Muitos negam que tenham
comportamentos egoístas ou infantis e acabam criando situações insustentáveis. Novamente é necessária bastante autocrítica e
autoconfiança para superar esse tipo de emoção. O pai ou a mãe que percebem que estão se
deixando liderar pelo novo parceiro, precisam abrir os olhos e mais uma vez
defenderem suas relações com seus filhos a todo custo.
Quando o dinheiro entra
em jogo
O pai
normalmente se queixa de que depois da separação a ex-mulher só sabe pedir
dinheiro. A resolução de pensões e
mesadas é um ponto que precisa ser definido, pois naturalmente se o pai era o
provedor da família, o impacto da sua saída de casa será enorme.
Atualmente
muitas mulheres recebem seu próprio salário e conseguem pagar as contas da
casa, mas quando existe a separação, o dinheiro que anteriormente era destinado
para lazer ou viagens fica preso no orçamento básico da casa. Os filhos que
eram acostumados com determinados padrões de gastos sofrerão alterações da
rotina. Esta experiência pode ser benéfica quando ensina as crianças e
adolescentes a consumirem de modo mais consciente. Também pode ser benéfica
quando ensina o real valor do dinheiro no dia a dia familiar, mas se o pai
mantém um padrão mais elevado de vida comparado ao da mãe, essa diferença pode
ser sentida como rejeição por parte dos filhos.
Os
filhos são capazes de entender que o pai não precisa proporcionar à mãe as
mesmas condições econômicas, mas quando existe conflito entre o casal, o
ex-marido pode ter receio de fornecer dinheiro para os filhos e acabar
beneficiando a ex-mulher. Nesta situação ele começa a restringir a ajuda
financeira e acaba prejudicando o bem estar dos filhos.
A situação pode se agravar muito mais
quando são inseridos padrastos e madrastas, pois com a formação de uma nova
família o pai (ou a mãe) precisam planejar seus gastos para sustentar dois
núcleos familiares. A tarefa de manter o padrão similar dos dois
lados torna-se um desafio e acaba sendo comum que os filhos passem a comparar
as situações financeiras. Quando o antigo provedor consegue equilibrar os dois
lados, tentando manter a condição dos filhos similar a condição do seu novo
núcleo familiar, os danos e as brigas serão menores, mas quando os filhos
começam a suspeitar que o pai se comporta de modo negligente às condições de
vida deles muitas mágoas podem surgir.
Parece
mesmo que essa é uma questão de bom senso, mas muitos casos acabam gerando
brigas eternas por questões financeiras. Mesmo quando existe um acordo
jurídico, onde o juiz estipula a obrigação do pai em relação aos filhos, a mãe pode
acabar arcando com mais obrigações e cuidados diários e muitas vezes precisa
fornecer dinheiro para o lazer das crianças. Os adolescentes começam a consumir
mais, começam a pedir dinheiro para saírem para festas, viagens, roupas e etc.
É necessário que o diálogo entre os pais seja respeitoso para que esse
equilíbrio seja alcançado. Quem ganha mais normalmente contribui mais? Deveria
ser assim, mas a realidade infelizmente não retrata essa condição justa.
O
senso de justiça deve partir de cada indivíduo. O casal precisa reconhecer suas
mágoas, rancores, medos e egoísmos. Punir o ex ou ficar paranoico por estar
servindo de banco são comportamentos que só criarão sensações de rejeição na
criança ou adolescente. Eu sempre recomendo que cada parte envolvida converse
com amigos ou consulte um psicólogo para saber se está conseguindo ser justo na
maneira de distribuir afeto e dinheiro. É necessário um exercício de
autocrítica para realizar uma análise real de si mesmo:
-
“Estou sendo justo com as condições financeiras em que deixei meus filhos?”
-
“Tenho raiva da minha ex e por isso não gosto de fornecer ajuda financeira para
ela?”
-
“Às vezes não forneço dinheiro porque não quero mimar demais meus filhos que
agora só me enxergam como um banco?”
-
“Tenho um padrão mais elevado que minha ex-mulher e tenho mais regalias do que
ela e meus filhos?”
-
“Deveria conversar com meus filhos sobre como eles se sentem em relação a minha
situação financeira?”
São
muitas questões que deveriam ser levantadas. Não existe certo e errado, mas manter
a vida dos filhos similar à vida dos pais é importante para que eles saibam que
são importantes e que não estão sendo negligenciados e nem prejudicados por
causa da separação. Quando existe muita diferença econômica entre os cônjuges,
na separação certamente esse será um item importante para ser debatido.
Outro
ponto controvertido é usar a privação de dinheiro como punição. Quando os pais
são casados, pode haver um acordo de privar o filho de festas, vídeo game e
mesada quando apresentam mal comportamento ou notas ruins na escola. Essa é uma
maneira eficaz de punir e, naturalmente, os filhos tendem a melhorar para
recuperar esses prazeres, porém quando os pais são separados a privação
financeira pode ser difícil, já que em boa parte dos casos o dinheiro extra pode
vir do ex-marido. Novamente o casal precisa respeitar a maneira de estipular as
punições, pois esse não será um método eficaz se ao chegar na casa do pai, os
filhos obtém dinheiro de forma irrestrita. A punição que é dada pela mãe é
completamente ignorada e a educação começa a ficar comprometida.
Tantas
variações difíceis podem acontecer por causa de dinheiro. Quando os filhos usam a boa condição financeira do pai (ou
mãe) para fazer chantagem emocional é hora dos pais ficarem alertas. Usar a situação delicada da separação para ter vantagens
pessoais pode indicar raiva dos filhos. É como se o filho quisesse medir o amor
dos pais através de quanto eles disponibilizam. Se a pessoa mais abastada passa
a fornecer dinheiro para provar que está sendo presente pode criar um dos
piores quadros possíveis, pois o filho não saberá administrar sua raiva e ainda
desenvolverá um comportamento egoísta e manipulador.
Outra situação
é quando o cônjuge que está mais ausente fornece dinheiro em troca de afeto e
atenção. Para manter o interesse dos filhos os pais podem oferecer presentes e
viagens. Por outro lado também podem
privar os filhos de dinheiro quando não se sentem procurados pelos filhos. Esta
situação também é péssima, pois a obrigação de cativar os filhos e mantê-los
por perto é dos adultos. Se os filhos não sabem como se comportar diante da
separação, quando se sentem visitas na casa de um dos pais, ou não se preocupam
em estar próximos dos pais com certeza alguma coisa está errada. Neste caso
eles não precisam de punição, mas sim de serem compreendidos. Usar a desculpa
da adolescência e da rebeldia para explicar esse afastamento é uma maneira
errada de resolver a situação.
Os pais
precisam sempre entender que os filhos não devem ser divididos ao meio. A responsabilidade
para manter o vínculo sadio mesmo com a distância é dos pais e os filhos
não devem escutar opiniões negativas sobre nenhum dos lados. Muitas audiências jurídicas
acabam não sendo justas e a mãe ou o pai acabam sendo lesados de alguma maneira,
porém essa mágoa não deve ser transferida para os filhos. A maturidade do casal
consiste na habilidade de manter a calma e administrar ressentimentos sem
envolver os filhos.
Os filhos são crianças que precisam
ser protegidas dos problemas do mundo. Os filhos precisam
confiar que seus pais saberão protegê-los. Quando esses que deveriam
protegê-los são aqueles que incutem a raiva, a mágoa ou o medo não poderíamos
dizer que estão sendo bons pais. Estes pais não apenas estão falhando, como estão lesando
profundamente a psique das crianças que precisariam estar desenvolvendo coragem
e boa autoestima para enfrentar seus problemas no futuro.
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