O
psicodiagnóstico realizado na área cognitivo-comportamental tem o propósito de
avaliar o comportamento e sua relação funcional com o ambiente. A noção de comportamento nesta abordagem refere-se
a um conceito amplo onde o comportamento não significa apenas uma ação física
ou verbal, mas sim uma relação complexa entre pensamentos, ações e sensações
dentro de contingências reforçadoras ou punitivas. Na abordagem comportamental
os sintomas são descritos como comportamentos
disfuncionais que apresentam determinados padrões. Muitos destes padrões
são descritos nos manuais de transtornos mentais (DSM e CID), que acabaram
servindo de referência para definições diagnósticas e comunicação clara entre
profissionais da saúde. O psicodiagnóstico possibilita que o profissional
conheça as variáveis envolvidas na queixa do cliente e estabeleça as diretrizes
de tratamento de acordo com sua linha de atuação.
Na prática
clínica a entrevista é utilizada para que o profissional possa reconhecer a
descrição da queixa do cliente e os motivos da procura ou encaminhamento para um
tratamento psicológico. Após o acolhimento das queixas iniciais é importante a
investigação do histórico de vida do paciente, pois assim podem ser
identificadas as relações deste indivíduo na sua infância e adolescência e como
foram estabelecidas as contingências (reforçadoras e punitivas) na formação de
condicionamentos. O propósito desta avaliação é completamente diferente das
abordagens psicodinâmicas. Este histórico visa à compreensão de
condicionamentos que podem estar ainda atuantes na vida presente do cliente,
mas não será o foco das estratégias comportamentais posteriores. Antes de iniciar uma intervenção clínica é
preciso verificar quais são os possíveis desencadeadores de sensações, ações ou
pensamentos disfuncionais e que trazem prejuízos pessoais e sociais na vida do
cliente. Apesar de existirem divergências teóricas entre a teoria cognitiva e a
comportamental, na prática clínica o enfoque na avaliação de pensamentos
automáticos e crenças centrais revelou-se um importante trabalho na busca de
distorções cognitivas que influenciam ações e sensações. Os psicólogos
cognitivistas enfatizam a importância de uma correta avaliação de padrões de
pensamentos para posterior modificação destes pensamentos com intervenções
cognitivas. Para avaliação destas crenças são utilizados questionários e escalas.
Normalmente após
definir as hipóteses diagnósticas e mapear os padrões disfuncionais, o
terapeuta e o cliente estabelecem um foco para o trabalho terapêutico. No
decorrer do processo algumas escalas podem ser utilizadas para ajudar a
mensurar os progressos realizados e iniciar novos planos terapêuticos. O
psicólogo também pode utilizar estes instrumentos para reavaliar hipóteses
diagnósticas e alterar o curso de estratégias que se apresentaram pouco
eficazes. Vale lembrar que os questionários e escalas não devem ser aplicados
de modo mecânico, pois dentro de um processo cognitivo-comportamental os
comportamentos emitidos pelo terapeuta fazem parte das contingências
reforçadoras do tratamento, principalmente na fase inicial onde o vínculo positivo
deve ser estabelecido. A forma de coletar as informações deve sempre ocorrer
dentro de um contexto empático e acolhedor para facilitar que o cliente se
envolva nesta investigação e se sinta motivado para enfrentar mudanças no seu
comportamento.
O psicólogo pode
fazer uso de testes psicológicos coerentes com sua abordagem de atuação, desde
que domine a forma de aplicação e interpretação dos dados. Existem muitos
profissionais especializados na aplicação de instrumentos técnicos específicos
e eles podem ser solicitados para esclarecer algum diagnóstico diferencial. Se
um instrumento é mal aplicado ele pode perder sua eficácia para os fins
diagnósticos e desorganizar o plano terapêutico. É sempre importante que o
psicólogo busque informações adicionais quando não possui clareza do contexto
diagnóstico, trabalhe em parceria com psiquiatras que podem estar intervindo
com medicações que afetam o comportamento alvo do tratamento. A medicação é uma
variável importante que proporciona alterações comportamentais que não são
provenientes de técnicas aplicadas em consultório. Alterações nas dosagens das
substâncias prescritas, alterações das substâncias ou retiradas devem ser
cuidadosamente avaliadas pelo psicólogo, pois podem alterar a avaliação e
condução do tratamento.
Rosana Portes de Miranda – CRP 08/11427
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