Pular para o conteúdo principal

Familiares e co-dependência

Familiares e co-dependência



A dependência química é um problema que afeta toda a família. Não deve ser comparada com outras compulsões já que o grau de alteração do comportamento do indivíduo dependente é muito alto e as oscilações de humor e do caráter são intensas e perturbadoras. Nem todos os dependentes são afetados da mesma forma. Alguns conseguem manter as atividades profissionais e algum vínculo saudável com a família, mas com certeza terá variações de humor que também acabarão interferindo nas relações interpessoais.

A primeira movimentação da família após constatar o abuso de álcool ou drogas é tentar controlar o comportamento do adicto (dependente químico). No início várias pessoas julgam a dependência como um comportamento desajustado típico de uma adolescência rebelde. Após a constatação dos danos a família passa a ser uma vigilante sempre atenta a qualquer movimento do adicto. Este comportamento familiar é natural, mas prejudicial, pois faz com que a família adoeça junto com o adicto. Ao mesmo tempo que o dependente precisa de ajuda, precisa tomar a difícil decisão de se tratar. Os tratamentos exigem disciplina, honestidade, aceitação da doença e abstinência da droga de preferência. Nenhum familiar convencerá um adicto a parar falando ou vigiando seus comportamentos. 

A melhor postura familiar é privar o adicto de determinadas regalias, impor determinadas regras para o convívio e colocar-se a disposição para ajudá-lo em qualquer tratamento que ele queria fazer. A família dos adictos precisa de atenção e precisa aprender a conviver com o dependente sem dilacerar todo o funcionamento familiar. Conhecer profundamente o processo emocional envolvido nas dependências químicas é fundamental.


Neste texto de Neliana Buzi Figlie, ela lista as fases que as famílias enfrentam quando possuem um membro dependente químico.

Estágios das famílias:

O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um de seus membros é correspondente às reações que vão ocorrendo com o sujeito que a utiliza. Este impacto pode ser descrito através de quatro estágios pelos quais a família progressivamente passa sob a influência das drogas e álcool:
1. Na primeira etapa, é predominantemente o mecanismo de negação. Ocorrem tensão e desentendimento e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente pensam e sentem

2. Em um segundo momento, a família demonstra muita preocupação com essa questão, tentando controlar o uso da droga, bem como as suas consequências físicas, emocionais, no campo do trabalho e no convívio social. Mentiras e cumplicidades relativas ao uso abusivo de álcool e drogas instauram um clima de segredo familiar. A regra é não falar do assunto, mantendo a ilusão de que as drogas e álcool não estão causando problemas na família.

3. Na terceira fase, a desorganização da família é enorme. Seus membros assumem papéis rígidos e previsíveis, servindo de facilitadores. As famílias assumem responsabilidades de atos que não são seus, e assim o dependente químico perde a oportunidade de perceber as consequências do abuso de álcool e drogas. É comum ocorrer uma inversão de papéis e funções, como por exemplo, a esposa que passa a assumir todas as responsabilidades de casa em decorrência o alcoolismo do marido, ou a filha mais velha que passa a cuidar dos irmãos em consequência do uso de drogas da mãe.

4. O quarto estágio é caracterizado pela exaustão emocional, podendo surgir graves distúrbios de comportamento e de saúde em todos os membros. A situação fica insustentável, levando ao afastamento entre os membros gerando desestruturação familiar.

Embora tais estágios definam um padrão da evolução do impacto das substâncias, não se pode afirmar que em todas as famílias o processo será o mesmo, mas indubitavelmente existe uma tendência dos familiares de se sentirem culpados e envergonhados por estar nesta situação. Muitas vezes, devido a estes sentimentos, a família demora muito tempo para admitir o problema e procurar ajuda externa e profissional, o que corrobora para agravar o desfecho do caso.

Autor: Neliana Buzi Figlie
http://www.adroga.casadia.org/codependencia/co-dependencia_tratamento_familia_dependencia.htm



Fonte Youtube: publicado em 27/05/2012
Co-dependência da familia do Dependente Químico.

Glossário de Centro de Recuperação SOS Drogas especialmente idealizado para levar informação e conhecimento para o dependente químico e seus familiares.


Outro vídeo interessante sobre internação compulsória (involuntária) para a família entender suas vantagens e desvantagens:

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=1nc8rKmGUfI



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Terapia Comportamental Dialética - DBT

A terapia comportamental Dialética (em inglês Dialectical Behavior Therapy - DBT) é um tratamento indicado para Transtorno Boderline e outros transtornos que envolvem estados emocionais intensos e descontrole de impulsos. Em janeiro de 2017, participei do curso de introdução para terapeutas DBT. Para resumir o que significa essa forma de tratamento, traduzi o texto que está na página do site Behavioral Tech. Para quem domina o inglês, estão postados diversos vídeos com explicações teóricas e depoimentos da própria autora  Marsha Linehan .    link para o texto em inglês:  http://behavioraltech.org/resources/whatisDBT.cfm Marsha Linehan O que é DBT? A terapia comportamental dialética (DBT) é um tratamento cognitivo-comportamental que foi originalmente desenvolvido para tratar indivíduos cronicamente suicidas diagnosticados com transtorno de personalidade boderline e agora é reconhecido como o padrão ouro no tratamento para esta população. Além disso, a pesquis

Psicodiagnóstico Cognitivo-Comportamental

O psicodiagnóstico realizado na área cognitivo-comportamental tem o propósito de avaliar o comportamento e sua relação funcional com o ambiente.  A noção de comportamento nesta abordagem refere-se a um conceito amplo onde o comportamento não significa apenas uma ação física ou verbal, mas sim uma relação complexa entre pensamentos, ações e sensações dentro de contingências reforçadoras ou punitivas. Na abordagem comportamental os sintomas são descritos como comportamentos disfuncionais que apresentam determinados padrões. Muitos destes padrões são descritos nos manuais de transtornos mentais (DSM e CID), que acabaram servindo de referência para definições diagnósticas e comunicação clara entre profissionais da saúde. O psicodiagnóstico possibilita que o profissional conheça as variáveis envolvidas na queixa do cliente e estabeleça as diretrizes de tratamento de acordo com sua linha de atuação.          Na prática clínica a entrevista é utilizada para que o profissional possa re

Terapia Cognitivo-comportamental em dependência química

Revista Brasileira de Psiquiatria ISSN 1516-4446  versão impressa Rev. Bras. Psiquiatr. v.26 supl.1 São Paulo maio 2004 Terapias Cognitiva e Cognitivo-Comportamental em dependência química Cláudio Jerônimo da Silva I ; Ana Maria Serra II I Unidade de Pesquisa em Álcool e Droga (UNIAD) – Departamento de Psiquiatria – Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM) e Associação Brasileira de Psicoterapia Cognitiva (ABPC) II Instituto de Terapia Cognitiva (ITC) - São Paulo e Associação Brasileira de Psicoterapia Cognitiva Endereço para correspondência RESUMO Este artigo descreve o estado atual da Terapia Cognitiva, Comportamental, Prevenção de Recaída e Treinamento de Habilidades no tratamento de usuários de drogas. O objetivo é apresentar uma revisão sobre teorias e técnicas da Terapia Cognitiva e outras abordagens que dela derivam. Terapias Cognitiva e Comportamental, bem como Prevenção da Recaída e Treinamento d